No final do último ano, eu comecei a trazer a ideia de intenção para ajudar as pessoas (e a mim mesma) a pensarem fora do modo automático. Falei disso diversas vezes, usei exemplos e fiz enquetes recorrentes para auxiliar a compreensão de uma maneira intencional de viver e de agir. A intenção como principal ferramenta na hora de viver o seu dia, de ir atrás das suas coisas e de colocar no mundo as suas ideias.
Mas o que passa por mim amadurece, ganha outras formas, começa a ter vida própria e a me mostrar outras possibilidades. Foi isso o que aconteceu com a ideia de intenção, que passou por uma metamorfose e ganhou outro sentido dentro de mim e das minhas ideias ultimamente.
Aconteceu enquanto eu escrevia, como acontece com a maioria das ideias que se desenvolvem em mim. E aconteceu principalmente enquanto eu vivia. Eu fui percebendo que, na prática, você pode ter muitas intenções ou uma única intenção forte, robusta e clara. Mas a vida vai continuar acontecendo, situações vão continuar atravessando o seu caminho e pessoas vão continuar tentando, nem sempre por mal, interromper o seu fluxo.
Há muitos anos eu fiz parte de uma companhia de dança na escola. Eu gostava da ideia de praticar uma atividade física artística. Naquela época eu tinha uma aversão à prática de outros esportes (e não vou mentir que essa aversão não existe mais), e escolhi a dança como modalidade na educação física. Passei por situações diversas naquele período, mas a coisa que sempre me apavorou foi a improvisação.
Por uma série de motivos, improvisar sempre foi (e continua sendo) um medo paralisante para mim. Eu era uma criança tímida que virou uma adulta reservada e extremamente autocrítica. Então, me colocar em situações de experimentação é apavorante. O que, muitas páginas matinais depois, eu descobri que não me protege em nada de pagar grandes micos ou estar sujeita a situações que, para mim, são vexatórias.
No entanto, nos últimos tempos, eu venho buscando maneiras de fazer o trabalho interno e melhorar a qualidade do diálogo que tenho comigo mesma. E uma das ferramentas que eu mais me identifico é o ho’oponopono, que, de maneira muito resumida, é uma técnica havaiana para limpeza de memórias – que vai de encontro à forma como eu compreendo a espiritualidade, para além de qualquer religião.
Tenho experiências muito boas com a prática e escolhi fazer dessa ferramenta uma das minhas principais formas de lidar com o que venho percebendo no meu mundo (interno e externo). E é, a partir dela, que a ideia de intenção começa a se desmontar e ganhar um outro sentido para mim.
Eu comecei a perceber que muitos dos meus sonhos se realizam de maneiras inesperadas – a maioria deles, na verdade. Eu crio cenários, planejo, ajo de acordo com as minhas convicções e o resultado das coisas quase nunca depende diretamente de algo que eu mesma fiz.
Não acho que funcione assim para todo mundo. Acredito que existem pessoas que vão funcionar pelo poder da intenção, que vão colocar o foco e a força delas em ação e a partir disso elas vão realizar seus propósitos. E também acredito que existem outras pessoas que precisam compreender que não controlam tudo e que vão realizar seus propósitos utilizando o poder da inspiração – ou, em outros termos, serão guiadas pela fé.
Soa contraintuitivo hoje em dia falar de inspiração e de fé. É de uma confiança que as pessoas não estão acostumadas. Eu entendo. Foi o que eu pensei quando comecei a perceber essa ideia se formando. Mas ela não tem nada a ver com parar e esperar a vida acontecer. Não estou falando que vou cruzar os braços e esperar tudo cair no meu colo. Nunca é assim.
Também não estou falando que eu não tenho intenções. Ter intenções é ter propósito e isso é essencial para a vida. E não estou falando de propósito em um sentido mágico e transcendental, estou falando que todo mundo deve saber quem é, do que gosta e o que realmente deseja. É daí que parte a intenção. Isto não mudou.
O que mudou é que em vez de agir a partir da intenção, eu vou agir a partir da inspiração. Vou precisar aprender a ouvir a minha intuição, a abrir mão de um controle que eu nunca tive e perder o medo de improvisar com a vida e com o que quer que ela lance no meu caminho. Abandonar a ideia de que as coisas deveriam ser de um jeito quando elas obviamente são de outro. Não me deixar paralisar por planejamentos rígidos ou por ideias pouco abrangentes de como alguma coisa pode acontecer.
Agir a partir da inspiração para parar de julgar e começar a seguir ideias que parecem aleatórias, confiando que elas vão me levar para mais perto das minhas intenções, ainda que não pareça. Confiar que a minha Energia Criativa sabe exatamente quem eu sou, do que eu gosto e o que eu realmente desejo até melhor do que eu mesma e que ela não vai me colocar em furada. E confiar, principalmente, que até as situações desafiadoras existem por uma razão e que ainda que a inspiração me leve para um lugar muito diferente, ela sabe que é exatamente ali que eu vou encontrar o que preciso.
Isto não é necessariamente convidativo, eu sei. Não existem garantias. Eu estou começando a falar disso porque é uma necessidade minha e porque eu decidi que faria o meu trabalho este ano da maneira mais autoral possível. E eu estou aqui escrevendo a partir de uma ideia que parece aleatória, enquanto ela vai ganhando forma dentro de mim, na minha vida e, aparentemente, no meu trabalho. Escolhi ouvir e me deixar guiar. Prometo documentar o processo, estar atenta e fazer a minha parte.
A partir da inspiração e com AMOR. 🖤