Poem A Day – Os estilhaços


Ninguém pode ouvir a minha mente barulhenta. Ainda bem, pensei em voz alta. Alguém perguntou o que eu disse, expliquei que fazia parte de uma conversa interna. Acho que todo mundo sabe que não se pergunta mais nada quando alguém diz isso. Era aparentemente um dia como outro qualquer, mas tinha um ar denso, difícil de respirar. Por mais perguntas que eu me fizesse, não conseguia encontrar uma resposta. Não conseguia entender por que eu sentia tanta raiva.
Me lembrei das expectativas que as pessoas têm em mim e que eu não quero corresponder. Queria poder dizer com todas as letras que eu não ligo e que é melhor começarem a se acostumar com o desapontamento. Mas meu querer fica sempre guardado. Escorre junto das lágrimas de frustração que eu não consigo conter em algumas tardes de domingo. Talvez eu assustasse ainda mais as pessoas se as deixasse saber o quanto penso em coisas que ninguém fala muito.
Às vezes parece que eu acumulo raiva e a sinto toda de uma vez. Tipo bola de neve. E eu fico com vontade de quebrar meu quarto inteiro, gritar com todo mundo, me isolar de tudo e ser louca sozinha. Os barulhos das pessoas me irritam, a porta trancada me conforta, contato me deixa impaciente, ter que ser coerente e coordenada me entristece de um jeito que nem sei dizer.
O “ter que” me tortura, me adoece, me deprime. Então, eu me fecho tentando controlar o impulso e a respiração. Ainda bem que ninguém pode ouvir, porque certamente tentariam conter o barulho, a raiva, o descontrole e os estilhaços imaginários de coisas que eu não quebrei. Mas gostaria.

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Publicado por

Elisa Alecrin

Provocando a realidade de dentro para fora e documentando o processo.

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