Autoconhecimento sem fronteiras

Autor: Elisa Alecrin Page 68 of 73

Provocando a realidade de dentro para fora e documentando o processo.

Déjà vu

Photo by Mario Azzi on Unsplash

Queria que você sentisse a minha falta como eu sinto a sua. E queria não precisar o tempo todo te lembrar que estou aqui. Sabe, essa parece ser mais uma das histórias que eu junto no currículo da vida pra me sentir experiente o bastante pra dar conselhos. Por mais que você seja tão diferente de tudo o que já passou por mim, ainda vejo similaridades, tenho déjà vu. E aí eu me recolho num canto, tentando não ligar, tentando apagar ou amenizar os danos de ter acreditado sozinha de novo.
Há dias como hoje em que eu tento dar um nome, colocar um rótulo e enfiar dentro de uma categoria, só pra me assustar menos, sentir menos, sofrer menos. Mas eu nem acredito que isso seja mesmo possível, mesmo sabendo que eu já deveria estar calejada, acostumada, curtida. Esse não é tipo de coisa a qual eu queira me acostumar a viver. Então sim, estou mais uma vez tirando o time de campo, querendo dar um tempo de tudo, sumir por uns tempos. Mas só paro de falar de mim o tempo todo e tento ser toda ouvidos pra pessoas diferentes.
Às vezes eu me pego olhando pro nada, visualizando uma cena que eu criei. Algumas vezes a cena é boa, na maioria das vezes é só o que eu tenho medo de reviver. Eu nunca chego a nenhum lugar bom com isso. E tento compensar produzindo alguma coisa útil, pra aliviar o peito, a consciência, pra não me sentir tão louca e egoísta por querer que você pense em mim tanto assim… A ponto de se sentir triste me imaginando com outro alguém. A ponto de perder a fome ou acordar com um sentimento confuso e que não diz nada.
Ontem eu fui dormir pensando que a gente não controla nada. Que a vida é isso e a gente precisa aprender a viver bem com o que tem. Você estava presente nesses pensamentos como um expectador. E eu queria poder quebrar a tela entre nós pra sentir um abraço que pudesse me levar pra longe de tudo.
Mas eu continuo aqui.
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Sobre não desistir (ou algo assim)


Uma vez me perguntaram o que não se devia deixar de fazer. Minha resposta foi: não se deve deixar de considerar o que tem importância pra você. Não foi bem com essas palavras, e eu nem lembro por que essa pergunta surgiu. Mas depois de ter algumas expectativas frustradas, aprendi a tirar proveito disso. A vida de ninguém para porque a gente precisa se recompor. Nem a nossa. Se desculpar consigo mesmo achando que isso justifica tudo e te faz café com leite na vida não é aplicável à realidade.
Eu acredito que a gente não controla todas as circunstâncias à nossa volta. Mas acredito também que sempre existem coisas que podemos e devemos fazer antes de esperar que a vida seja legal com a gente. E a principal é: não desistir. Porque o tempo não para, oportunidades nem sempre se repetem e atrás vem gente.
Posso soar meio repetitiva, mas existem coisas que os outros não podem fazer por nós. Porque não estão na nossa pele, porque não se importam e/ou porque têm suas próprias vidas pra cuidar. Você pode ficar uma semana ou vários meses cultivando a dor de um pé na bunda, mas enquanto isso, a outra pessoa está se refazendo, correndo atrás do que é dela e, quem sabe, até em um novo relacionamento.
Não, isso não é uma competição pra ver quem se dá bem primeiro. É só um toque pra ninguém sofrer mais do que é necessário ou desperdiçar tempo chorando, enquanto poderia conquistar sonhos e aproveitar oportunidades de fazer, construir e viver coisas incríveis. Não desista do que você quer e não perca tempo velando coisas que já foram. 
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Um bom motivo

Photo by Josh Felise on Unsplash

Eu te vi chegar de fininho, aos poucos, fazendo esforço pra não ser visto. Ri do quão engraçado foi ver você derrubar os livros e estragar seu disfarce. Você me olhou nos olhos e ergueu os ombros reprovando a sua própria falta de jeito em passar despercebido. Ainda me lembro daquele olhar e de como ele me fez sentir.
Outro dia você me ligou porque eu fui embora antes de você voltar e a gente não se despediu. E eu pensei “lá vamos nós outra vez”, revirei os olhos e achei tudo aquilo muito clichê. Já te achava legal e tudo, mas não imaginei que um dia eu pagaria pra ver. E olha que eu paguei… a língua. Te liguei no meio de uma tarde e uma chuva torrencial pra te dizer que não dava mais e que eu queria te ver. A sua risada entregou na hora tudo o que você esteve pensando durante todo esse tempo.
Dois dias depois a minha campainha tocou e era você. Meu susto, meu coração, minhas mãos trêmulas, minhas borboletas no estômago, minhas pernas bambas, minha cara de trouxa, você… no meu portão. Foi o abraço mais longo e apertado que eu dei em muito tempo. E eu prometi pra mim naquele dia que eu nunca te deixaria sair da minha vida.
Algumas vezes chove, outras faz sol. Algumas vezes eu tenho certeza, outras sou toda dúvidas. Têm dias que eu não vou a lugar algum e têm dias que eu faço as malas. Eu choro de medo e incerteza agora e depois sorrio de tantas possibilidades inexploradas. Eu tento ser daqui pra fora, mas no fundo eu sei que não iria a nenhum lugar em que não pudesse te encontrar.
Você tentou chegar sem alarme, sem barulho, sem atenção. Mas antes de estourar o silêncio, eu já tinha te visto. E por mais que eu tenha tentado negar de várias maneiras, no fundo eu sabia. Foi daquele olhar em diante que eu encontrei nas minhas próprias falhas um bom motivo pra continuar tentando.
E eu nunca desisti. 
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