Passei muitos anos morando na casa dos meus pais, dormindo em uma cama que era par de uma beliche. A estrutura era de ferro e o estrado era de madeira. Depois de muitos anos, aquela cama começou a ficar muito barulhenta. Era insuportável dormir nela porque qualquer mínimo movimento que eu fizesse à noite me acordava por causa do barulho da cama.

Quando eu estava perto de me mudar, ganhei uma cama nova, mais alta, mais firme, com um baú onde eu cabia (mas que usei para guardar as minhas coisas) e sem cabeceira. A ausência de cabeceira me pegou desprevenida, porque eu fazia muitas coisas da minha cama, recostada na cabeceira, de perninhas cruzadas e com paz de espírito. Mas precisei me adaptar à essa nova configuração.

Como não consigo ver nada como apenas a coisa em si, comecei a fazer diversas conexões sobre a falta de cabeceira da minha nova cama e a vida. Depois de muitos anos lidando com o incômodo de uma cama desconfortável (com a qual eu já estava mais do que acostumada) e barulhenta, foi finalmente perto do momento de ter que deixar de me apoiar nos meus pais que eu também perdi o apoio da cama.

Sei lá, na minha cabeça isso equivale a tirar as rodinhas da bicicleta para aprender a se equilibrar. Foi (e tem sido) estranho, mas menos conflituoso do que eu achei que seria. E como uma boa parte das coisas que eu decidi fazer na minha vida, eu me abri para a possibilidade de me sentir desconfortável antes de me adaptar. Faz parte de tudo o que é novo e diferente. Mas se a gente entende que é o melhor, a coisa lógica a ser feita é se jogar.

Já faz mais de seis meses que eu tive a ideia de escrever este texto e eu continuo pensando da mesma forma. A vida dá medo e não dá muitas garantias. O risco é assustador, mas é a única forma da gente ter certeza se alguma coisa vale a pena. O frio na barriga nunca passa, as inseguranças sempre gritam no ouvido, mas se você sabe exatamente o que deseja e confia que tem o que é preciso, você vai encontrar o seu caminho, o seu equilíbrio. Mesmo que sua bicicleta não tenha mais as rodinhas ou que sua cama não tenha mais uma cabeceira.

“If you desire to do something, there is a part of you deep down that knows you’re capable or else you wouldn’t waste your time thinking about it.”

Jen Sincero

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