A coragem de se jogar no desconhecido ou qualquer coisa parecida com isso

Nos últimos meses ouvi algumas vezes o quanto fui e estou sendo corajosa em fazer tantas mudanças na minha vida. Mudar para outro país nesta economia, viver em outro idioma, conhecer pessoas novas depois dos trinta, começar uma vida nova, em outro contexto, outra configuração, outros rostos, outras vozes e uma versão de mim que ainda não se reconhece e não se sente confortável e segura o suficiente para ser.

Acho que a próxima conclusão é óbvia: eu me sinto qualquer coisa, menos corajosa. E mesmo avaliando tudo o que eu fiz porque escolhi e que fui fazendo porque a vida foi guiando ou acontecendo, ainda não me vejo essa pessoa confiante e despachada que mudar completamente de vida deu a impressão de que eu sou. E nem sei se foi de coragem que eu precisei para chegar aqui. Acho que o que me moveu foi muito mais uma vontade de mudar do que coragem.

Talvez a gente não se guie tanto pela coragem que tem, mas pelos nossos porquês. Porque mudar, arriscar e dar o salto sempre vêm acompanhados de medo, de incertezas, de frio na barriga e não é tanto a coragem que impulsiona o próximo passo mas a curiosidade, o saco cheio, a vontade de viver alguma coisa diferente, de ver o mundo por outra perspectiva. E nem é por coragem também que a gente continua. Às vezes é a esperança de ver as coisas melhorarem, os nossos sonhos se materializarem, um dia mais tranquilo em que a gente não esteja calculando as incertezas, o choro no banho, a vontade de correr para o colo da mãe…

Acho que coragem é o nome que a gente dá para o impulso que chega no último segundo entre o medo de tudo o que a gente não conhece e o salto no escuro, no desconhecido, no desconfortável, no se olhar no espelho sem se reconhecer por um tempo, no reaprender a ser você quando nada te lembra remotamente quem você era, no construir uma confiança que você nunca conheceu e não tem referências claras de como construir. Parece coragem, mas eu chamo de motivo. Porque depois do salto no escuro é o motivo por que você saltou que vai te manter tentando quando a vida ainda estiver indefinida, esquisita, confusa.

Mas independente do nome, eu só queria te (e me) lembrar de que as coisas que você precisa para lidar com a vida, com as dúvidas, com essa sensação parecida com não encontrar a posição certa para dormir, já estão dentro de você. Podem ter nomes lindos como coragem, mas não fazem a gente se sentir tão poderosa assim logo de cara. Você pode se sentir doida, desamparada, inconsequente e pensar em grande parte do tempo “o que eu estou fazendo” ou “onde fui amarrar meu burro”, mas com sorte (e mais alguma coisa que eu ainda não descobri) você vai se encontrar do outro lado dessa aventura com muita história boa para contar.

Vamos juntas? 🫶🏽✨


Obrigada por ler até aqui! 🖤
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