Poem A Day – O lá menor


Eu espero que não dê tempo de você perceber. É que eu andei vagando a tarde inteira buscando uma palavra que pudesse expressar. Atrasei o café, não ouvi a buzina do padeiro… A rotina me cansa, a programação porca da TV nem sempre dá conta do meu tédio e, especialmente hoje, não surgiu nada novo pra ocupar o vazio, pra preencher os ouvidos e aquecer o coração.
Olha, já faz muito tempo. Eu nem sei que tipo de desculpa seria aceitável, mas eu não quero inventar uma. Já faz muito tempo que ando fazendo de conta, que vivo da boca pra fora com medo do que vão dizer. Quer dizer, será que isso é mesmo viver? Será que eu poderia encontrar algum tipo de conforto no que não estou dizendo, e transformar esse silêncio num silenciador de opiniões que eu não peço?
Daqui a pouco vai ser tarde outra vez e vou ter que esperar o amanhã. Vendo as luzes piscarem na parede, contando o número de vezes que consigo respirar fundo em quinze minutos. Vou sentir frio na barriga por causa da sensação de que alguma coisa faltou e que amanhã eu vou ter outra chance. Vou pegar meu violão surrado e cansado, como o meu coração, e ensaiar minha dor baixinho. Em lá menor…

• • •
Follow Me:
YouTube | Instagram | Spotify

Deixe seu comentário

Poem A Day – O silêncio


Ficou após você. Após o ruído da louça contra a parede. E os vasos de planta no chão. Ninguém se feriu com os cacos (ainda bem), mas as palavras deixaram feridas abertas. Tudo o que não foi dito antes, saiu num curto espaço de tempo. Fazendo eco, vibrando as janelas e paredes da casa. Fazendo a vizinhança parar por um momento pra se assustar com a gente.
Era um fim de tarde, fim de paciência, fim da resistência, fim de nós. A natureza cumpria seu papel. Nós nos desfazíamos em oitavas prolongadas. Fazíamos o barulho das nossas almas ruidosas preencher todos os cômodos. E eu ainda não sei como dois seres serenos de repente foram capazes de tamanha confusão. Tudo ficou escuro assim como o céu lá fora naquele dia.
E agora, sem ter pra onde correr, sem louça pra quebrar, sem ter com quem gritar, sobraram os cacos. Depois das malas com as suas roupas, depois de bater a porta do táxi, depois de ir embora, você não viu o que ficou. Ficou o burburinho dos vizinhos, ficou a luz acesa refletindo no vidro quebrado no chão. Ficou o silêncio da sua ausência pelos cantos me fazendo tentar entender o que aconteceu.

• • •
Follow Me:
YouTube | Instagram | Spotify

Deixe seu comentário

Poem A Day – O labirinto

Photo by Burst on Unsplash

Entramos nessa juntos, de mãos dadas e pelo mesmo lado. Em algum momento a gente perdeu a comunicação e foi cada um pra um corredor. Desses que não dão em lugar algum e a gente é obrigado a voltar, depois de se perder muito de si mesmo.
A gente se esbarrou. Mas foi só isso mesmo. Acabamos batendo naquela parede e depois cada um seguiu de novo o seu caminho. Acho que não nos demos conta de que aquela era só uma das vezes que a gente se encontraria.
São muitas ruas estreitas, caminhos tortuosos e entradas sem saídas. A gente é obrigado a voltar, tentar encontrar uma reta que leve a algum lugar seguro. E, nos últimos dez anos, todas as ruas sem saída nos colocaram de frente um pro outro. E eu não sei o que pensar.
Espero que essa pegadinha acabe bem. Espero que a gente perceba o que tiver pra perceber antes que seja tarde. Antes que a gente seja obrigado a abandonar esse labirinto chamado vida sem notar que esbarrou várias vezes no que procurava esse tempo todo. ♡

[Esse texto virou uma música e você pode ouvir aqui]

• • •
Follow Me:
YouTube | Instagram | Spotify

Deixe seu comentário