A vida não para

Photo by Paul Green on Unsplash

Tem que saber sorrir. Mesmo que nada faça sentido e não tenha ninguém disposto a te ouvir. Tem que saber se virar com a solidão, dançar ao som da sua música favorita e descansar os olhos no fim da tarde, esticando aquele sono de depois do almoço. Tem que haver disposição, tem que largar de preguiça, tem que sair da caverna em algum momento. Tem que pegar chuva, pisar na poça e se sujar com a lama. Tem que suar, tem que fazer valer e tem que saber se levantar.

Enquanto a água morna batia nas minhas costas, eu pensava que ninguém aparece no nosso caminho por acaso. Nem as piores pessoas, já que elas nos deixam mais espertos. E aí eu pensei que talvez tudo faça muito mais sentido do que o pouco sentido que eu encontrei. Talvez não seja nada do que eu tô pensando e sim algo muito maior e mais valioso. E, apesar de querer muito saber o que acontece a seguir, imagino que talvez as próximas cenas não me surpreendam, mas me tornem bem mais disposta e confiante.
A vida não para. Não canso de repetir pra mim mesma. Não paro de repensar essas palavras pra ver se o medo sara e se o impulso de me proteger não é meramente me acomodar. A vida não para. E eu não parei pra pensar. Pensei enquanto andava. Enquanto pegava chuva, enquanto suava tentando fazer valer a pena, enquanto ria de mim mesma, enquanto dançava com a solidão, enquanto eu limpava meus sapatos sujos de lama, enquanto eu despertava do sono da tarde, enquanto eu falava sozinha e esperava você sorrir pra mim. A vida não para…
Mesmo que você jamais sorria de volta.
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Déjà vu

Photo by Mario Azzi on Unsplash

Queria que você sentisse a minha falta como eu sinto a sua. E queria não precisar o tempo todo te lembrar que estou aqui. Sabe, essa parece ser mais uma das histórias que eu junto no currículo da vida pra me sentir experiente o bastante pra dar conselhos. Por mais que você seja tão diferente de tudo o que já passou por mim, ainda vejo similaridades, tenho déjà vu. E aí eu me recolho num canto, tentando não ligar, tentando apagar ou amenizar os danos de ter acreditado sozinha de novo.
Há dias como hoje em que eu tento dar um nome, colocar um rótulo e enfiar dentro de uma categoria, só pra me assustar menos, sentir menos, sofrer menos. Mas eu nem acredito que isso seja mesmo possível, mesmo sabendo que eu já deveria estar calejada, acostumada, curtida. Esse não é tipo de coisa a qual eu queira me acostumar a viver. Então sim, estou mais uma vez tirando o time de campo, querendo dar um tempo de tudo, sumir por uns tempos. Mas só paro de falar de mim o tempo todo e tento ser toda ouvidos pra pessoas diferentes.
Às vezes eu me pego olhando pro nada, visualizando uma cena que eu criei. Algumas vezes a cena é boa, na maioria das vezes é só o que eu tenho medo de reviver. Eu nunca chego a nenhum lugar bom com isso. E tento compensar produzindo alguma coisa útil, pra aliviar o peito, a consciência, pra não me sentir tão louca e egoísta por querer que você pense em mim tanto assim… A ponto de se sentir triste me imaginando com outro alguém. A ponto de perder a fome ou acordar com um sentimento confuso e que não diz nada.
Ontem eu fui dormir pensando que a gente não controla nada. Que a vida é isso e a gente precisa aprender a viver bem com o que tem. Você estava presente nesses pensamentos como um expectador. E eu queria poder quebrar a tela entre nós pra sentir um abraço que pudesse me levar pra longe de tudo.
Mas eu continuo aqui.
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Um bom motivo

Photo by Josh Felise on Unsplash

Eu te vi chegar de fininho, aos poucos, fazendo esforço pra não ser visto. Ri do quão engraçado foi ver você derrubar os livros e estragar seu disfarce. Você me olhou nos olhos e ergueu os ombros reprovando a sua própria falta de jeito em passar despercebido. Ainda me lembro daquele olhar e de como ele me fez sentir.
Outro dia você me ligou porque eu fui embora antes de você voltar e a gente não se despediu. E eu pensei “lá vamos nós outra vez”, revirei os olhos e achei tudo aquilo muito clichê. Já te achava legal e tudo, mas não imaginei que um dia eu pagaria pra ver. E olha que eu paguei… a língua. Te liguei no meio de uma tarde e uma chuva torrencial pra te dizer que não dava mais e que eu queria te ver. A sua risada entregou na hora tudo o que você esteve pensando durante todo esse tempo.
Dois dias depois a minha campainha tocou e era você. Meu susto, meu coração, minhas mãos trêmulas, minhas borboletas no estômago, minhas pernas bambas, minha cara de trouxa, você… no meu portão. Foi o abraço mais longo e apertado que eu dei em muito tempo. E eu prometi pra mim naquele dia que eu nunca te deixaria sair da minha vida.
Algumas vezes chove, outras faz sol. Algumas vezes eu tenho certeza, outras sou toda dúvidas. Têm dias que eu não vou a lugar algum e têm dias que eu faço as malas. Eu choro de medo e incerteza agora e depois sorrio de tantas possibilidades inexploradas. Eu tento ser daqui pra fora, mas no fundo eu sei que não iria a nenhum lugar em que não pudesse te encontrar.
Você tentou chegar sem alarme, sem barulho, sem atenção. Mas antes de estourar o silêncio, eu já tinha te visto. E por mais que eu tenha tentado negar de várias maneiras, no fundo eu sabia. Foi daquele olhar em diante que eu encontrei nas minhas próprias falhas um bom motivo pra continuar tentando.
E eu nunca desisti. 
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