Poem A Day – As margaridas


Por um momento eu esqueci de viver. Fiquei olhando pro nada, tentando inventar uma vida mais fácil pra você. O que eu estava pensando? Cada um carrega os seus próprios pesos e nessa eu acabei esquecendo dos meus. Falei demais de novo. Pisei além da faixa que demarcava meu limite. E agora estou aqui corroendo de vontade de te ver e me escondendo de todo mundo de novo. Mais uma tentativa não saudável de ver alguém sorrir espontaneamente na minha direção.
Da última vez que eu esqueci da realidade assim, você estava aqui quando eu acordei. Era só a minha imaginação, eu sei, mas parecia de verdade. O dia nublado lá fora, o despertador na soneca, as margaridas murchas no criado-mudo. Tinha mais detalhes do que eu conseguia reparar, porque eu só via você.
Quando despertei da viagem ao mundo da imaginação, ainda estava deitada entre a sua mensagem e a hora de levantar e encarar a vida. Foi quase como viver tudo de novo, mas sem a melhor parte. Foi quase como se você realmente tivesse passado por aqui. Quase. O dia estava mesmo nublado e o despertador na soneca. Mas eu soube quase instantaneamente ao abrir os olhos que não passou de um sonho. Você jamais teria esquecido de me trazer margaridas.

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Poem A Day – O cabelo

Eu escutava todo aquele papo de “debaixo dos caracóis” e não achava graça nenhuma. E eu nem saberia te dizer o porquê. Acho que enfiaram na minha cabeça que não era uma coisa legal. Talvez pelo simples fato de ser fora de padrão, por parecer pouco arrumado na época, sei lá. Eu detestava e chorava e passei por maus bocados. E aí eu caí pra dentro dos procedimentos pesados. Deixei que levassem minha identidade. E fiquei disfarçada, meio parecendo com todo mundo, por alguns anos da minha vida. Mas dentro de mim uma voz bem pequenininha de vez em quando tentava fazer minha cabeça, ou melhor, meu cabelo.

Não foi sem relutar, sem pensar algumas boas vezes, sem querer desistir, sem me achar bonita que eu passei pela fase de transição mais bacana da vida. Porque eu não mudei só por fora, não mudei só a aparência, não só aprendi a aceitar características que nasceram comigo. Foram muitas coisas que mudaram, principalmente ao redor. Hoje eu me sinto livre e isso traz uma série de razões implícitas. Coisas que o tempo explica, descobre, faz perceber.
Ainda estou perdendo o medo de ser vista, de ser notada. Ainda estou tentando me desfazer de apegos a histórias que não cabem mais nas minhas mãos. Ainda estou esperando o cabelo crescer, a noite cair, a música tocar e você chegar. Eu era criança só uma criança quando ouvi, mas hoje sei que é verdade: “debaixo dos caracóis dos seus cabelos, uma história pra contar, de um mundo tão distante…” ♡

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Poem A Day – O verão


Estava claro demais e o ar pesado demais. Meu corpo se arrastava de um cômodo a outro enquanto eu pensava em tudo o que me disse. Doeu como um tapa. Um tapa na minha pele ardendo do sol. Parece que as coisas se agravam mais quando esquenta. Pode ser só impressão, mas antes do sol surgir tudo estava calmo.
Eu lembro, meu bem. Nós dois aqui deitados, sentindo o tempo passar. E quando os primeiros raios de sol começaram a esquentar, nós começamos a ruir. E a luz que invadiu a casa mostrou toda a poeira que nós acumulamos. Entre os dedos, entre as desculpas. Poeira que a gente varria pra baixo do tapete. As brigas também esquentaram e o frio que nos mantinha unidos, pra que pudéssemos nos aquecer, foi embora. E com tanto calor, só queríamos distância.
Não, o verão não chegou. O que chegou foi a verdade. E ela ilumina todos os cantos escuros, esquenta todos os cômodos, fazendo com que todos saiam, e cansa mais do que a gente imagina. Mas é nessa maratona na busca por sombra e água fresca que descobrimos quem realmente somos.

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