Poem A Day – O cabelo

Eu escutava todo aquele papo de “debaixo dos caracóis” e não achava graça nenhuma. E eu nem saberia te dizer o porquê. Acho que enfiaram na minha cabeça que não era uma coisa legal. Talvez pelo simples fato de ser fora de padrão, por parecer pouco arrumado na época, sei lá. Eu detestava e chorava e passei por maus bocados. E aí eu caí pra dentro dos procedimentos pesados. Deixei que levassem minha identidade. E fiquei disfarçada, meio parecendo com todo mundo, por alguns anos da minha vida. Mas dentro de mim uma voz bem pequenininha de vez em quando tentava fazer minha cabeça, ou melhor, meu cabelo.

Não foi sem relutar, sem pensar algumas boas vezes, sem querer desistir, sem me achar bonita que eu passei pela fase de transição mais bacana da vida. Porque eu não mudei só por fora, não mudei só a aparência, não só aprendi a aceitar características que nasceram comigo. Foram muitas coisas que mudaram, principalmente ao redor. Hoje eu me sinto livre e isso traz uma série de razões implícitas. Coisas que o tempo explica, descobre, faz perceber.
Ainda estou perdendo o medo de ser vista, de ser notada. Ainda estou tentando me desfazer de apegos a histórias que não cabem mais nas minhas mãos. Ainda estou esperando o cabelo crescer, a noite cair, a música tocar e você chegar. Eu era criança só uma criança quando ouvi, mas hoje sei que é verdade: “debaixo dos caracóis dos seus cabelos, uma história pra contar, de um mundo tão distante…” ♡

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Poem A Day – O verão


Estava claro demais e o ar pesado demais. Meu corpo se arrastava de um cômodo a outro enquanto eu pensava em tudo o que me disse. Doeu como um tapa. Um tapa na minha pele ardendo do sol. Parece que as coisas se agravam mais quando esquenta. Pode ser só impressão, mas antes do sol surgir tudo estava calmo.
Eu lembro, meu bem. Nós dois aqui deitados, sentindo o tempo passar. E quando os primeiros raios de sol começaram a esquentar, nós começamos a ruir. E a luz que invadiu a casa mostrou toda a poeira que nós acumulamos. Entre os dedos, entre as desculpas. Poeira que a gente varria pra baixo do tapete. As brigas também esquentaram e o frio que nos mantinha unidos, pra que pudéssemos nos aquecer, foi embora. E com tanto calor, só queríamos distância.
Não, o verão não chegou. O que chegou foi a verdade. E ela ilumina todos os cantos escuros, esquenta todos os cômodos, fazendo com que todos saiam, e cansa mais do que a gente imagina. Mas é nessa maratona na busca por sombra e água fresca que descobrimos quem realmente somos.

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Poem A Day – A memória


Passou por mim às quatro e dezesseis. E quando eu consegui recuperar o fôlego, fiquei tentando lembrar como cheguei até aqui. Porque nem faz tanto tempo, mas esse pouco tempo trouxe coisas que mudaram tudo. Parece que foi de uma hora pra outra, mas passou muito mais água por baixo da ponte. O tempo não curou, mas trouxe uma nova chance. Ele sempre traz outra chance.
Foram três longos minutos. Uma viagem que jogou verdades na minha cara e não me deu tempo de responder. Trinquei os dentes e cerrei os punhos esperando passar. Senti o alívio dos minutos seguintes, quando passou. Passou e fez várias fichas caírem, e tudo fez sentido.
Era só uma memória. Algo que perdeu o poder de me machucar, mas que eu ainda uso pra perceber coisas boas. Nem tudo é degrau ou escada. Às vezes a gente desce ao invés de subir. Às vezes a gente aprende ao invés de ensinar. Mas de tudo o que acontece, as memórias são a parte boa ou a parte ruim que permanece. E isso depende exclusivamente da gente. ♡

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