Eu escutava todo aquele papo de “debaixo dos caracóis” e não achava graça nenhuma. E eu nem saberia te dizer o porquê. Acho que enfiaram na minha cabeça que não era uma coisa legal. Talvez pelo simples fato de ser fora de padrão, por parecer pouco arrumado na época, sei lá. Eu detestava e chorava e passei por maus bocados. E aí eu caí pra dentro dos procedimentos pesados. Deixei que levassem minha identidade. E fiquei disfarçada, meio parecendo com todo mundo, por alguns anos da minha vida. Mas dentro de mim uma voz bem pequenininha de vez em quando tentava fazer minha cabeça, ou melhor, meu cabelo.
Não foi sem relutar, sem pensar algumas boas vezes, sem querer desistir, sem me achar bonita que eu passei pela fase de transição mais bacana da vida. Porque eu não mudei só por fora, não mudei só a aparência, não só aprendi a aceitar características que nasceram comigo. Foram muitas coisas que mudaram, principalmente ao redor. Hoje eu me sinto livre e isso traz uma série de razões implícitas. Coisas que o tempo explica, descobre, faz perceber.
Ainda estou perdendo o medo de ser vista, de ser notada. Ainda estou tentando me desfazer de apegos a histórias que não cabem mais nas minhas mãos. Ainda estou esperando o cabelo crescer, a noite cair, a música tocar e você chegar. Eu era criança só uma criança quando ouvi, mas hoje sei que é verdade: “debaixo dos caracóis dos seus cabelos, uma história pra contar, de um mundo tão distante…” ♡
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