As peças do meu quebra-cabeça

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No vídeo de ontem do canal (aqui) eu mandei um recado pra minha versão do passado. Falei sobre coisas que eu acho que poderiam ter acontecido de outra forma e por quê. É claro que não passou de uma brincadeira (em tom sério) e de uma reflexão que leva em consideração que a pessoa que pode definir pra onde minha vida tá indo é a minha versão no presente. E, quem me deu o repertório que existe à minha disposição pra saber quais são as melhores opções agora foi a minha versão do passado. Mas não só ela.

Ao longo da vida fui ouvindo e absorvendo impressões das pessoas à minha volta sobre mim e, mesmo tendo citado no vídeo coisas que dizem e que a gente não deve levar pro coração, existem muitas pessoas que observam e enxergam a gente de verdade. E são essas pessoas que dizem as coisas mais importantes, mesmo que de um jeito tímido. Se a gente se abrir pra perceber e receber essas palavras, elas vão servir como peças no nosso próprio quebra-cabeça.

Fui ouvindo coisas ao longo da vida que funcionaram como dicas pra eu descobrir quem eu sou e que vez ou outro pipocam na minha cabeça como um lembrete disso. Ou como um incentivo muito bem vindo em certos momentos. Abaixo eu aponto e explico algumas dessas coisas.

EU NÃO PRECISO TER VERGONHA POR NÃO PENSAR E AGIR IGUAL A TODO MUNDO
Não é que eu seja a diferentona do rolê, mas no meu círculo social (especialmente o familiar) eu sou a pessoa que não compra muita a cartilha do que você deve fazer para agradar os outros. E não é de propósito, eu só fui criada respeitando aquilo que eu sinto (minha mãe até falou disso no nosso vídeo sobre espiritualidade – aqui) e aprendi na prática que não dá pra fazer o que todo mundo espera e sair disso sendo você mesmo depois. Quem me acordou pra vida foi a pessoa mais parecida e diferente de mim na vida que é o meu pai. Se tem uma pessoa diferentona, é ele. E ele uma vez me disse e me fez entender que tudo bem não ser igual a todo mundo. E não é que eu seja a pessoa mais única e exclusiva do mundo. É só que nem sempre eu vou concordar ou corresponder às expectativas dos outros. E tudo bem.

“EU SOU UMA CONTROL FREAK, O QUE EU QUERO, EU CONSIGO”
Usei esse trecho de CUTE BUT PSYCHO da Manu Gavassi porque toda vez que lembro disso essa música me vem na cabeça. Lembrei disso não tem muito tempo, mas quando ganhei meu primeiro violão (quando eu tinha 13 anos), meu irmão falou que eu conseguia tudo o que eu queria. Não tenho memória suficiente pra lembrar em que tom ele falou isso, mas conhecendo a personalidade dele, eu acredito que foi numa boa e de uma maneira incentivadora (afinal de contas ele fez parte da minha criação por ser nove anos mais velho). Recentemente essa memória acendeu na minha cabeça e eu fiquei me perguntando cadê aquela Elisa que não sossegava até conseguir alguma coisa, o que me leva ao próximo tópico.

EU CORRO ATRÁS DOS MEUS SONHOS
Recebi isso de alguns amigos e achei muito fofo! Porque meus amigos são as pessoas que mais têm acesso ao caos que minha cabeça fica de vez em quando e, mesmo assim, eles me enxergam como essa pessoa motivada, que não desiste, que bate cabeça, faça chuva ou faça sol tá ali fazendo o melhor que pode pra não deixar de fazer o que acredita. Não sei até que ponto eles acham isso realmente admirável, mas aí eu já tô querendo muito e me importando com coisa que não preciso me importar tanto assim, afinal…

EU TENHO MAIS O QUE FAZER
Eu dei muita risada quando disseram isso pra mim e não pude deixar de concordar. Depois de lidar com algumas coisas repetidas vezes, eu aprendi a não supervalorizar alguns sofrimentos e dificilmente as pessoas me veem fazendo drama sobre alguns assuntos específicos que são motivo de muito drama pra muita gente. E isso porque eu descobri que existem coisas muito importantes pra mim e em mim que precisam muito mais da minha atenção do que perder energia com coisas que já foram decididas e precisam de tempo e espaço pra curarem. Eu realmente tenho mais o que fazer!

Tenho certeza que investigando bem, todo mundo encontra pelo menos uma coisa boa que ouviu de alguém e essa coisa pode funcionar como dica ou combustível pra gente trabalhar na nossa melhor versão. Você consegue se lembrar de algo assim?

Dias ruins & o meu coach interno

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Lembro que quando eu estava no ensino médio um amigo não fazia a mais remota ideia do que ele queria fazer da vida. Éramos um grupo de algumas pessoas e boa parte delas já mostrava algum talento bastante promissor. E esse amigo ficava se sentindo o patinho feio das habilidades, porque ele não fazia ideia da coisa na qual ele era bom. Eu era uma das pessoas com talento promissor. Podia apostar que depois do ensino médio minha vida deslancharia e eu faria tanto sucesso quanto a certeza que eu tinha do que eu queria.

Pois bem, sucesso pode ser uma coisa relativa, né? Mas não estou dentro nem mesmo do meu próprio padrão de sucesso. Aquele amigo, apesar de eu não fazer ideia do nome da profissão dele, está muito bem. E agora parece que a gente inverteu os papéis. Eu tô naquele ponto em que todo mundo que eu conheço parece extremamente bem resolvido com o seu próprio caminho e eu continuo uma criança melequenta, com dedo no nariz e a boca aberta, distraída, olhando pela janela esperando um insight. É menos teatral e passivo do que isso, mas ainda assim, é este o meu ponto.

E eu sempre enfrento um conflito absurdo pra falar dessas coisas porque acho que é me expor demais a julgamentos de pessoas que nem me conhecem ou sabem a minha situação real de vida pra além do que eu edito pra postar nas redes sociais. Ao mesmo tempo, não acho que as pessoas estão tão interessadas assim em mim pra se darem ao trabalho de clicarem em um link (realmente um imenso esforço, sabe) e lerem o que eu me dou a incumbência de escrever todos os meses na esperança de que alguém interessado, interessante e influente leia e deposite em mim fé e vontade genuína de me ver acontecer.

É, eu sei. Ao mesmíssimo tempo que a parte racional de mim (sol em Capricórnio) ri dessas ideias, a parte extremamente sonhadora de mim (ascendente em Peixes) continua criando um roteiro de comédia romântica muito da clichê. E poderia tranquilamente ser algo no estilo “De Repente 30”, considerando que tô quase lá e me identifico parcialmente com aquela história.

Mas, por incrível que pareça, me falta imaginação pra dar conta de um final feliz digno de filme nessa realidade. E até minha falta momentânea de esperança é clichê porque eu já vivi isso inúmeras vezes e na minha cabeça sempre volta aquele meme que diz “cansada de estar cansada”. Porque eu nem tô cansada de verdade. Não dá pra cansar de não ter feito nada de relevante. Mas acho que tentar cansa…

E a minha mente sempre cria um daqueles coaches que fazem a gente sentir culpa por estar na merda. Ele me aponta vários dedos e sempre me diz que não estou tentando direito, que não tenho força de vontade, que eu sou mole e etc. Às vezes ele tem razão, às vezes eu só quero que ele cale a boca. Não gosto do conceito de culpa. Culpa só me prende em ressentimento e fica repetindo em um telão interno todas as coisas que eu já fiz de errado nessa vida (como se eu não soubesse). Responsabilidade é o que eu acredito que pode gerar a autonomia necessária pra gente agir e mudar as coisas.

Mas desde que eu me entendo por gente eu tenho medo de assumir responsabilidades. Não é que eu seja uma pessoa irresponsável, eu só tenho pavor da ideia de errar, de decepcionar, de fracassar (e não é que eu esteja fazendo o oposto disso agora). Mas toda pessoa perdida que se preze vai me entender. Ficar e permanecer nessa areia movediça, de algum jeito muito errado e esquisito assusta menos do que sequer pensar em fazer um movimento que a gente não sabe se consegue.

Sim, é burro em muitos níveis diferentes. Mas são as batalhas clichês que a gente continua travando dentro de si ao longo da nossa história. E assim caminha a humanidade…

Sim, coach, eu disse a gente… Porque se o problema fosse só comigo, você nem precisaria existir de verdade.

Coisas que nunca mudaram

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Acredito que mudar é bom e necessário. Acho que a gente perde muito tempo se julgando por isso. E perde ainda mais tempo julgando os outros por terem mudado, porque isso nos obriga a redescobrir as pessoas. Mas todo mundo pode e, em muitos casos, deve mudar. É o que permite que a gente se reinvente, cresça e amadureça muitas visões e avance pra outros aprendizados, outras fases, outras coisas.

Mas o oposto de mudar também tem o seu valor e a sua importância. Especialmente quando a gente se perde um pouco de si mesmo, se frustra com a vida ou não encontra as respostas que estava procurando. Nessas horas é bom saber o que sempre esteve ali e quais são as características, anseios, desejos e opiniões que sempre estiveram presentes e pautaram a nossa personalidade.

Eu preciso ser sincera. Nem todas as coisas que estão ali desde sempre ou desde que a gente consegue se lembrar são realmente boas. Pode ser que a gente descubra que algumas delas sejam a base de quem a gente é. Nesse caso, acho que o melhor que a gente pode fazer é abraçar seja lá o que for esse negócio e aprender a lidar com isso de uma maneira que mais nos ajude do que atrapalhe.

Eu sempre usei a escrita como uma maneira de tentar entender um pouco do caos que minha cabeça fica de vez em quando. Sempre lembro da “penseira” do Dumbledore quando falo disso. Escrever é tirar um peso da minha cabeça. E é algo que eu faço desde que consigo me lembrar. E nem sempre essa escrita era como está sendo neste momento. A música também sempre me ajudou a aliviar alguns pesos internos. E esse é um processo que até hoje não sei explicar muito bem. A música continua sendo uma incógnita pra mim.

Existem coisas mais sombrias sobre mim que nunca mudaram e eu costumava acreditar que precisava delas pra ser criativa, mas eu abandonei essa crença. Porém algumas dessas coisas continuam aqui e isso é um pouco desesperador, mas é caso pra terapia, então eu vou deixar pra terapia.

De qualquer modo, eu percebo que certas coisas sobre mim nunca mudaram. Talvez ter parado pra prestar atenção nisso seja um indício de que alguma dessas estruturas precisam ruir pra criar outras melhores. Não sei. E essa é outra constante… há muitas coisas que eu não sei. E isso eu sei que não vai mudar.