Dias ruins & o meu coach interno

Photo by mwangi gatheca on Unsplash

Lembro que quando eu estava no ensino médio um amigo não fazia a mais remota ideia do que ele queria fazer da vida. Éramos um grupo de algumas pessoas e boa parte delas já mostrava algum talento bastante promissor. E esse amigo ficava se sentindo o patinho feio das habilidades, porque ele não fazia ideia da coisa na qual ele era bom. Eu era uma das pessoas com talento promissor. Podia apostar que depois do ensino médio minha vida deslancharia e eu faria tanto sucesso quanto a certeza que eu tinha do que eu queria.

Pois bem, sucesso pode ser uma coisa relativa, né? Mas não estou dentro nem mesmo do meu próprio padrão de sucesso. Aquele amigo, apesar de eu não fazer ideia do nome da profissão dele, está muito bem. E agora parece que a gente inverteu os papéis. Eu tô naquele ponto em que todo mundo que eu conheço parece extremamente bem resolvido com o seu próprio caminho e eu continuo uma criança melequenta, com dedo no nariz e a boca aberta, distraída, olhando pela janela esperando um insight. É menos teatral e passivo do que isso, mas ainda assim, é este o meu ponto.

E eu sempre enfrento um conflito absurdo pra falar dessas coisas porque acho que é me expor demais a julgamentos de pessoas que nem me conhecem ou sabem a minha situação real de vida pra além do que eu edito pra postar nas redes sociais. Ao mesmo tempo, não acho que as pessoas estão tão interessadas assim em mim pra se darem ao trabalho de clicarem em um link (realmente um imenso esforço, sabe) e lerem o que eu me dou a incumbência de escrever todos os meses na esperança de que alguém interessado, interessante e influente leia e deposite em mim fé e vontade genuína de me ver acontecer.

É, eu sei. Ao mesmíssimo tempo que a parte racional de mim (sol em Capricórnio) ri dessas ideias, a parte extremamente sonhadora de mim (ascendente em Peixes) continua criando um roteiro de comédia romântica muito da clichê. E poderia tranquilamente ser algo no estilo “De Repente 30”, considerando que tô quase lá e me identifico parcialmente com aquela história.

Mas, por incrível que pareça, me falta imaginação pra dar conta de um final feliz digno de filme nessa realidade. E até minha falta momentânea de esperança é clichê porque eu já vivi isso inúmeras vezes e na minha cabeça sempre volta aquele meme que diz “cansada de estar cansada”. Porque eu nem tô cansada de verdade. Não dá pra cansar de não ter feito nada de relevante. Mas acho que tentar cansa…

E a minha mente sempre cria um daqueles coaches que fazem a gente sentir culpa por estar na merda. Ele me aponta vários dedos e sempre me diz que não estou tentando direito, que não tenho força de vontade, que eu sou mole e etc. Às vezes ele tem razão, às vezes eu só quero que ele cale a boca. Não gosto do conceito de culpa. Culpa só me prende em ressentimento e fica repetindo em um telão interno todas as coisas que eu já fiz de errado nessa vida (como se eu não soubesse). Responsabilidade é o que eu acredito que pode gerar a autonomia necessária pra gente agir e mudar as coisas.

Mas desde que eu me entendo por gente eu tenho medo de assumir responsabilidades. Não é que eu seja uma pessoa irresponsável, eu só tenho pavor da ideia de errar, de decepcionar, de fracassar (e não é que eu esteja fazendo o oposto disso agora). Mas toda pessoa perdida que se preze vai me entender. Ficar e permanecer nessa areia movediça, de algum jeito muito errado e esquisito assusta menos do que sequer pensar em fazer um movimento que a gente não sabe se consegue.

Sim, é burro em muitos níveis diferentes. Mas são as batalhas clichês que a gente continua travando dentro de si ao longo da nossa história. E assim caminha a humanidade…

Sim, coach, eu disse a gente… Porque se o problema fosse só comigo, você nem precisaria existir de verdade.

Publicado por

Elisa Alecrin

Provocando a realidade de dentro para fora e documentando o processo.

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