Poem A Day – O verão


Estava claro demais e o ar pesado demais. Meu corpo se arrastava de um cômodo a outro enquanto eu pensava em tudo o que me disse. Doeu como um tapa. Um tapa na minha pele ardendo do sol. Parece que as coisas se agravam mais quando esquenta. Pode ser só impressão, mas antes do sol surgir tudo estava calmo.
Eu lembro, meu bem. Nós dois aqui deitados, sentindo o tempo passar. E quando os primeiros raios de sol começaram a esquentar, nós começamos a ruir. E a luz que invadiu a casa mostrou toda a poeira que nós acumulamos. Entre os dedos, entre as desculpas. Poeira que a gente varria pra baixo do tapete. As brigas também esquentaram e o frio que nos mantinha unidos, pra que pudéssemos nos aquecer, foi embora. E com tanto calor, só queríamos distância.
Não, o verão não chegou. O que chegou foi a verdade. E ela ilumina todos os cantos escuros, esquenta todos os cômodos, fazendo com que todos saiam, e cansa mais do que a gente imagina. Mas é nessa maratona na busca por sombra e água fresca que descobrimos quem realmente somos.

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Poem A Day – A memória


Passou por mim às quatro e dezesseis. E quando eu consegui recuperar o fôlego, fiquei tentando lembrar como cheguei até aqui. Porque nem faz tanto tempo, mas esse pouco tempo trouxe coisas que mudaram tudo. Parece que foi de uma hora pra outra, mas passou muito mais água por baixo da ponte. O tempo não curou, mas trouxe uma nova chance. Ele sempre traz outra chance.
Foram três longos minutos. Uma viagem que jogou verdades na minha cara e não me deu tempo de responder. Trinquei os dentes e cerrei os punhos esperando passar. Senti o alívio dos minutos seguintes, quando passou. Passou e fez várias fichas caírem, e tudo fez sentido.
Era só uma memória. Algo que perdeu o poder de me machucar, mas que eu ainda uso pra perceber coisas boas. Nem tudo é degrau ou escada. Às vezes a gente desce ao invés de subir. Às vezes a gente aprende ao invés de ensinar. Mas de tudo o que acontece, as memórias são a parte boa ou a parte ruim que permanece. E isso depende exclusivamente da gente. ♡

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Poem A Day – O começo


Pra mim o começo é a parte mais delicada de alguma coisa. Exceto nos jogos de níveis. Fora isso, tudo é um campo minado, uma descoberta, um excesso de cuidados que beira o insuportável. Mas não dá pra fugir. Tudo precisa começar. Antes dos meios, dos fins, as situações, as pessoas, tudo precisa começar. E é geralmente no começo que você percebe se quer ou se deve mesmo continuar.
É logo no começo que você leva o tombo (ou só tropeça). Mas apenas no começo as pessoas têm paciência com os erros das outras. Apenas no começo os deslizes são considerados normais. Depois disso é a forca, o julgamento e a cobrança. E aí quase não há mais o frio na barriga inicial, apenas o peso da pressão sobre os ombros.
O começo ensina coisas extremamente importantes. Volta e meia a vida faz a gente recomeçar. Talvez porque não tenhamos prestado atenção nas primeiras vezes. Talvez porque na metade do caminho tenhamos esquecido uma parte superimportante que nos permitiria continuar. Talvez porque recomeçar seja preciso.
Todos os dias são recomeços, páginas em branco que a gente insiste em resgatar as lacunas de ontem pra preencher. Todos os dias trazem consigo o começo de alguma coisa, que a gente insiste em tratar como continuação. Acho que é por essa razão que muitas vezes temos que refazer o caminho. Pra abrir os olhos e perder o medo dos começos e recomeços que a vida tem. ♡

[Esse texto virou uma música e você pode ouvir aqui]

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