Coisas que nunca mudaram

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Acredito que mudar é bom e necessário. Acho que a gente perde muito tempo se julgando por isso. E perde ainda mais tempo julgando os outros por terem mudado, porque isso nos obriga a redescobrir as pessoas. Mas todo mundo pode e, em muitos casos, deve mudar. É o que permite que a gente se reinvente, cresça e amadureça muitas visões e avance pra outros aprendizados, outras fases, outras coisas.

Mas o oposto de mudar também tem o seu valor e a sua importância. Especialmente quando a gente se perde um pouco de si mesmo, se frustra com a vida ou não encontra as respostas que estava procurando. Nessas horas é bom saber o que sempre esteve ali e quais são as características, anseios, desejos e opiniões que sempre estiveram presentes e pautaram a nossa personalidade.

Eu preciso ser sincera. Nem todas as coisas que estão ali desde sempre ou desde que a gente consegue se lembrar são realmente boas. Pode ser que a gente descubra que algumas delas sejam a base de quem a gente é. Nesse caso, acho que o melhor que a gente pode fazer é abraçar seja lá o que for esse negócio e aprender a lidar com isso de uma maneira que mais nos ajude do que atrapalhe.

Eu sempre usei a escrita como uma maneira de tentar entender um pouco do caos que minha cabeça fica de vez em quando. Sempre lembro da “penseira” do Dumbledore quando falo disso. Escrever é tirar um peso da minha cabeça. E é algo que eu faço desde que consigo me lembrar. E nem sempre essa escrita era como está sendo neste momento. A música também sempre me ajudou a aliviar alguns pesos internos. E esse é um processo que até hoje não sei explicar muito bem. A música continua sendo uma incógnita pra mim.

Existem coisas mais sombrias sobre mim que nunca mudaram e eu costumava acreditar que precisava delas pra ser criativa, mas eu abandonei essa crença. Porém algumas dessas coisas continuam aqui e isso é um pouco desesperador, mas é caso pra terapia, então eu vou deixar pra terapia.

De qualquer modo, eu percebo que certas coisas sobre mim nunca mudaram. Talvez ter parado pra prestar atenção nisso seja um indício de que alguma dessas estruturas precisam ruir pra criar outras melhores. Não sei. E essa é outra constante… há muitas coisas que eu não sei. E isso eu sei que não vai mudar.

No começo de alguma coisa

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Photo by Aziz Acharki on Unsplash

Dia desses minha amiga compartilhou o vídeo de uma menina muito talentosa que faz maquiagens e vídeos divertidíssimos. Entrei na página dessa minha amiga pra comentar que eu vi aquela menina (e tantas outras) em começo de carreira e eu mesma estava lá em começo de carreira com elas também. E cá estou, em começo de carreira ainda, vendo essa menina e tantas outras atingirem níveis de sucesso que eu jamais fui capaz de imaginar pra mim mesma. E acho que é aí que reside o problema.

Eu não olho pra essas meninas pensando que eu queria o que elas têm, porque mesmo admirando o que elas fazem, é tudo bem diferente do que eu sei e gosto de fazer. Mas fico tentando entender em que parte do caminho eu desandei pra não ter “desabrochado” no mesmo tempo. E nem é uma questão de querer acontecer no mesmo tempo que todas elas, mas entender o que eu preciso fazer de diferente agora pra não me sentir pra sempre presa no começo de alguma coisa. E aquele problema do primeiro parágrafo, acaba de encontrar um amiguinho.

Quando eu era criança/adolescente, eu só me imaginava sendo duas coisas: cantora ou pediatra. Dada a minha inabilidade com qualquer coisa relacionada à saúde, sobrou o cantora mesmo. Por muito tempo, eu tive certeza que não seria nada além disso. E agora, mesmo sendo mais ou menos uma cantora, acho essa uma das coisas menos prováveis de me levar aonde eu quero chegar. E no meio do caminho de lá pra cá, eu fui descobrindo muitos outros interesses, como a escrita, como a internet e, mesmo sendo uma pessoa estranha, com dificuldades pra socializar e ter a atenção das pessoas voltada pra si, eu sou 100% da comunicação. Eu gosto é disso aqui, comunicar ideias. Seja através de textos, fotos, vídeos ou música.

Acho que, por muito tempo, eu não soube o que fazer pra usar todas as minhas habilidades e criar algo que eu soubesse dizer o que era. Não saber o que eu tô fazendo me deixa sem um objetivo claro. Sim, muita gente começa assim e dá certo, mas acho que não é o meu caso. Então, acredito que faltou entender o que eu realmente queria, onde eu queria chegar e, por consequência, eu não coloquei todo meu esforço em todas as mil coisas não pontuais que eu estava fazendo. E, claro, acho que a sorte resolveu nem me dar bola, já que ela sabia que eu estava confusa.

Hoje eu consigo enxergar isso um pouco melhor. Estou construindo a minha própria visão de sucesso e estou entendendo o que quero e o que não quero em termos de realização pessoal e profissional. Acho que a clareza disso me faz dar passos mais firmes e ter ideias mais coerentes com o meu objetivo de ser fiel à mim mesma e aos meus sonhos. Muito mais do que naquela época de começo de carreira quando eu via todas aquelas meninas e pensava que precisava fazer exatamente como elas pra ser vista. Eu nunca fui como elas e por consequência nunca fui vista tanto quanto elas.

Porque no momento em que eu tiver que ser vista, vai ser por ser exatamente quem eu sou.

Não acredite neles

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Photo by Jose Pablo Garcia on Unsplash

Sabe quando a gente nota em alguma pessoa um certo apego a pensamentos e atitudes que travam completamente a vida dela? E não há nada que a gente possa dizer pra tirar a pessoa daquilo porque ela não quer sair. Na verdade ela tem até orgulho de ser daquele jeito.

Eu imagino que a gente é essa pessoa várias vezes na vida e em níveis diferentes a cada fase. E daí quando a gente passa das fases e enxerga em outras pessoas manias parecidas, tão ou mais nocivas do que as que a gente tinha, a gente quer poder fazer alguma coisa. Mas não pode.

Tem gente que é teimosa mesmo e vai morrer jurando que tá certa, na merda, só pra não admitir que erra e que precisa evoluir. Tem gente pobre de espírito que acredita cegamente que não tem nada de errado em fazer carinho em pensamentos e atitudes que só levam pro buraco. Tem gente que é escrota mesmo e só curte ser a pior companhia.

Independente do caso, a gente não pode fazer nada. De alguns a gente pode se afastar, de outros não. São amigos queridos, parentes, pessoas de quem a gente gosta e que precisam de nós de uma forma ou de outra. Mas não dá pra ser babá emocional ou espiritual de ninguém.

O que dá é a gente não ser o mesmo tipo de pessoa. A pessoa que teima, que acredita que tudo bem caminhar pro buraco ou que ser a pior companhia por diversão é válido. O que não pode é a gente se negar a amadurecer nossa forma de ver a vida porque as pessoas à nossa volta acham que tudo bem se ferrar sempre, não ter perspectiva e acreditar que coisas boas só acontecem com os outros, mas nunca com a gente.

Não acredite neles. Mesmo que eles acreditem muito em si mesmos.