Abri o guarda-roupas com raiva e com pressa. Têm coisas que precisam de urgência, pois já passaram da validade. Encarei sem dizer nada aquele tanto de coisas e peças que de uma certa forma fizeram e fazem parte de mim. No entanto, era só uma das muitas etapas. Olha a vida acenando, o tempo sendo o apressado de sempre, o dia virando noite e eu não tendo oportunidades de dizer adeus, de dizer “me espera” ou de perder mais dez minutos deitada na cama.
De alguma maneira esquisita e esquecida (porque eu sempre faço questão de não pensar muito sobre isso e acabo esquecendo), é como se uma voz aqui dentro me dissesse pra não me preocupar além da conta. Porque, certas ou erradas, todas as coisas vão voltar pro lugar. E, por mais bagunçada que eu me sinta, sei que na vida tudo tem um tempo certo de acontecer, mesmo que tudo pareça acontecer fora do tempo. A gente tenta explicar e nunca consegue. Mesmo assim, todo mundo entende.
Então, o guarda-roupas. Aquele cheiro de roupa guardada há muito tempo… E aquelas peças que eu uso sempre emboladas na parte mais visível. Sim, eu sei. Foi necessário sentir raiva, pressa e um pouco de medo de nunca ser o que eu preciso. Foi necessário parar de pensar e fazer alguma coisa. Qualquer coisa. Abrir um guarda-roupas negligenciado e com cheiro de roupa velha e perceber que quem precisa de uma releitura sou eu.
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