Eu vi o cursor piscando na tela e percebi meus olhos piscarem sincronizados. Foi tanta coisa ao mesmo tempo, tanta coisa isolada, tanta coisa que é difícil lembrar dos detalhes. Mesmo estando há horas tentando explicar o óbvio, nunca é tão fácil quanto a gente imagina. E eu só posso dizer que a gente é o resultado das nossas escolhas e de escolhas alheias com as quais precisamos conviver. Escolhas que precisamos respeitar.
Eu sempre falo de mim no “coletivo”. Eu sempre digo a gente no lugar de eu. Isso me dá a sensação de que eu não estou sozinha e que, por mais besta que tenha sido o meu erro, alguém em algum lugar já passou pela mesma coisa e eu posso tentar ser humana de novo. Já posso parar de dramatizar o tempo todo e de supervalorizar bobagens diárias.
Preciso deixar muitas coisas de fora. Meu tempo é curto demais pra relembrar, pra reviver e pra tentar entender. Eu vou sentir saudades de você por um tempo, mas se você ficar eu sentirei saudades da falta. Aprendi que dores passam, que o tempo é um ótimo amigo e que o tédio ensina a gente a se curtir. Ficar sozinho é péssimo quando o mundo te vira as costas, mas estar sozinho por escolha é libertador.
Caminho pelo chão terroso, canto em voz alta a minha própria trilha sonora. Busco corujas pousadas em muros. Tenho medo do escuro, de altura e de não ter uma boa biografia no fim dessa aventura. Mas saber que a vida não espera, que portas se abrem e se fecham, perceber que muita gente veio e foi embora e que, mesmo vendo todas essas coisas de perto, eu pude levantar e continuar meu caminho faz valer a estrada toda. Mesmo com pés cansados e calejados, ainda há muito o que andar.
E há muito o que escrever também. ♡
• • •