A direção certa do esforço

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“Deixe sua intuição te guiar. Você é o que você estava procurando.”

Quanto mais você se conhece, melhor você se expressa. Quanto mais você se expressa, melhor você se conhece. Viver é esse eterno fluxo. A conexão, o contraste, a aventura. Ir e voltar sempre permite que a gente acesse novas partes da gente e se conheça numa profundidade que a falta de fricção não permite.

Viver no fluxo do eu é perceber suas nuances, entender que suas sombras fazem parte de quem você é, de quem você não é e de quem você quer se tornar (que eu chamaria de se lembrar da sua verdadeira natureza). Viver esse fluxo é se abrir para se conhecer e se deixar ser sem se julgar, sem se limitar e sem deixar que te limitem por vergonha, por medo, por mágoas ou por apatia.

O sentido da vida é a gente que dá

A gente pode criar seguindo o que está dentro da gente ou seguindo aquilo que é conveniente de acordo com opiniões alheias. A menos que você tenha muito medo de descobrir o que você guarda aí dentro, ter a sua história como referência sempre vai gerar identificação e conexão, por mais doloridas que tenham sido as suas experiências. Essa pra mim é a parte mais bonita: a possibilidade de curar nossas dores ajudando outras pessoas a enfrentarem coisas parecidas como quem diz: eu já passei por isso, eu te entendo e a gente vai ficar bem.

Isso não tem o mesmo efeito quando é feito artificialmente. Para fluir naturalmente, a gente precisa embarcar no fluxo, mergulhar em quem somos, estudar a nossa própria história e encarar momentos como algo além dos momentos em si. O sentido da vida é a gente que dá e isso não acontece da noite para o dia. É observação, construção, composição.

Entregue ao fluxo

Qual é a história que você está se contando? Qual é a história que você quer que contem quando você se for? Pode parecer muito para pensar, mas quando você está realmente entregue ao fluxo, não precisa pensar tanto, apenas ser. E o ser dá conta de ligar os pontos que a gente não consegue por se preocupar demais.

Se esforçar costuma ser doloroso quando não estamos alinhados com nosso coração. E quando tamos, mal parecemos nos esforçar, porque agimos a partir da inspiração. Parece simples, mas demanda um esforço interno bastante insistente. Porém, eu venho aprendendo que essa é a direção certa do esforço: para dentro.

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Respeite a sua história

Photo by Colton Sturgeon on Unsplash

Em um mundo cada vez mais digitalizado, ficou mais fácil editar não só nossa aparência, mas também a nossa vida para que tudo fique cada vez mais aesthetic, simétrico e perfeito. Com isso, ficou também muito mais fácil a gente comparar nosso tapete antigo e surrado com a grama sintética recém instalada e verdinha dos vizinhos que a gente pode jurar (dada a grande quantidade de filtros e efeitos) que é natural. Ficou cada vez mais comum sentir a tal da frustração com as partes das nossas vidas que não são instagramáveis, enquanto comparamos o nosso dia a dia e nossos bastidores com o palco de outras pessoas. Isso sem contar que a gente também alimenta esse sistema editando a nossa vida e mostrando só as partes legais. Fica fácil acreditar que tudo é perfeito, mesmo que no fundo a gente saiba que não é bem assim.

Enquanto vemos tantas vidas, fotos, corpos e projetos perfeitos, é comum sentir a necessidade de resetar a nossa existência, começar tudo de novo sendo novas e melhores pessoas. A possibilidade de recomeçar sempre vem como uma excelente alternativa à nossa falta de perspectiva, de desenrolo com os problemas atuais e com a ideia de que tudo vai ser diferente a partir de agora. Essa possibilidade vem acompanhada do sentimento de querer fazer melhor, de uma esperança iludida de deixar para trás quem a gente foi, as coisas erradas que a gente fez, de abandonar toda a confusão que a gente já sentiu, tomar decisões mais acertadas, endireitar nossos passos, encontrar nosso rumo e, enfim, se comprometer com o nosso progresso.

Não me leve a mal. Eu acho importante demais saber a hora de desistir de alguma coisa, de saber se reinventar e recomeçar quando é necessário. Mas acho que também é necessário haver alguma resiliência ou nos tornamos viciadas em recomeçar. Porque recomeçar, muitas vezes, é a alternativa fácil. É a alternativa de quem não sabe lidar com o meio do processo, de quem evita sentir a frustração de não saber como enfrentar novos desafios e de quem prefere o conforto de ser sempre iniciante em alguma coisa – o nível de responsabilidade é menor, as cobranças são menores e a desculpa de estar “só começando” é uma aliada perfeita ao nosso medo de se tornar grande demais. Recomeçar é recurso para quem já tentou de tudo e precisa de novos ares. Não é um recurso para quem tem medo do próximo passo e do quanto esse passo leva para mais fundo e para mais dentro do mar.

Imagine que você está dentro de um barco em alto mar e, embora saiba aonde quer chegar, toda vez que sente que se perdeu você volta para o porto. Você dificilmente vai conseguir chegar aonde quer porque está sempre voltando para o mesmo lugar – o começo. Agora imagine que sempre houve uma bússola em perfeito estado dentro deste barco mas que, por desconfiar da sua capacidade de interpretar o funcionamento dela, você continuou tomando a mesma decisão de voltar para o porto seguidas vezes. Parece insensato, não é mesmo? Mas a gente faz isso em outros contextos e, muitas vezes, sem perceber.

A vontade de começar “do zero” e ter uma trajetória livre de máculas nos impede de perceber que muitas histórias já foram escritas, muitas lições aprendidas e muitas habilidades foram desenvolvidas porque o nosso caminho foi exatamente do jeito que já aconteceu. Por mais que a gente queira jogar uma pá de terra em cima do nosso passado, ele não vai mudar. A gente pode dar sentido a tudo o que já viveu e usar essas bases para construir uma história nova sem precisar desconsiderar o que veio antes, porque o que veio antes permitiu que a gente se tornasse o que é agora – para o bem ou para o mal, não é deletando o seu passado que você resolve o seu futuro, mas fazendo escolhas conscientes no presente.

Quem é você no silêncio?

Photo by Brett Jordan on Unsplash

Estamos tão acostumadas a viver no meio de muitos estímulos, abraçar a correria diária, o ter que dar conta, a multipotencialidade e suas mil tarefas, que dificilmente sabemos dizer quem somos sem isso tudo. A gente automaticamente se define pelas coisas que faz, que não faz e que quer fazer. E embora eu acredite que essas coisas sejam boas pistas, não acredito que essencialmente nós sejamos essas coisas – mas que nos identificamos com elas. A maioria das certezas que a gente carrega a respeito de quem somos, são definidas por contextos. E a parte essencial de todas nós está muito além dos contextos a que fomos e somos condicionadas – consciente ou inconscientemente.

Existe um vazio e um silêncio entre e por trás de todas as coisas e se conectar com isso é uma tarefa de concentração e desapego (do controle, das certezas, dos rótulos). Esse desapego muitas vezes é exatamente o que a gente precisa praticar para que coisas novas tenham a oportunidade de surgir e se mostrarem. Como em um momento de “distração” em que somos atingidas por uma ideia ou inspiração. Essa distração não era distração de verdade, mas sim presença, foco no que importava viver que era aquele momento. É dessa pessoa não distraída, mas entretida, receptiva e presente que eu estou falando. Quem é ela? Quando ela se entretém? Com o que ela se entretém?

O que você faz quando nada precisa ser feito? O que você diz quando as palavras já não são mais necessárias? O que você cria quando nada precisa ser feito ou criado? Quando o vazio e o silêncio te encontram de peito aberto e a vida apenas é (sem adjetivos), quem é você? Entre e por trás dos medos, das incertezas, das inseguranças, dos traumas… Entre e por trás de todas as coisas que fazem volume em ruído e massa e não te deixam perceber que você já é perfeita do seu jeito (que é o único jeito que importa porque ninguém além de você tem), quem é você?

Embora sejamos feitas essencialmente da mesma matéria, há coisas que nos fazem únicas. Individualidade é uma coisa maravilhosa. Significa que a forma como você faz algo só você pode fazer. E não é que ninguém mais no mundo vá ser capaz de fazer aquela mesma coisa. Só que ninguém vai ser capaz de fazer aquela mesma coisa do mesmo jeito que você faz, porque só tem uma de você. E é dessa você que eu tô falando. Você sabe me dizer quem é ela? O mundo precisa conhecê-la!