Como você pode fazer o seu trabalho interno?

Antes de mais nada, o que é trabalho interno?

Trabalho interno é colocar em prática o tal do autoconhecimento que eu tanto falo por aqui. É você tomar tempo, atenção e investir esforço na direção certa: dentro de você.

É perceber seus pensamentos, emoções e como eles te movem. É parar para pensar de onde vêm os seus pensamentos, como eles influenciam as suas emoções e trabalhar em maneiras de melhorar a qualidade do seu diálogo interno. Porque é a partir disso que você desenvolve a famigerada motivação que pouco tem a ver com ter disposição ou não para fazer algo, mas entender por que você faz qualquer coisa na sua vida.

E as maneiras de usar o autoconhecimento a seu favor são inúmeras, mas aqui eu vou numerar algumas e você escolhe qual (ou quais) é a melhor opção para você.

ESCRITA DIÁRIA
Eu costumo comparar a escrita diária à penseira do Dumbledore, de Harry Potter. Quando você escreve, além de tirar um peso da sua cabeça, você também tem a oportunidade de ver determinadas situações como espectadora. E, às vezes, quando você relê o que escreveu, alguns detalhes que você não tinha prestado atenção, acabam se revelando e te ajudando a agir de forma diferente.

Dicas para começar um diário

TERAPIA
Aqui na internet esse assunto já está bastante espalhado e consolidado, mas quantas pessoas você conhece que realmente fazem terapia ou consideram fazer? Ainda existe alguma resistência das pessoas (especialmente as mais velhas) em relação à terapia. Mas resumindo, a premissa de falar dos seus problemas pode parecer boba, mas se engolir as coisas que incomodam fizesse algum bem, a gente estaria vivendo tempos melhores.


AUTO-OBSERVAÇÃO
Embora isso venha de brinde quando você escreve e/ou faz terapia, é uma prática que você pode (e eu diria até que deve) fazer agora mesmo aí, enquanto lê isto aqui.

Como você está se sentindo agora? Seu corpo está relaxado, tenso, não sabe dizer? O que você está ou esteve pensando no último minuto? Que sensações estão passando por você agora que eu te incentivei a reparar nessas coisas?

Crie o hábito de se perguntar como você está e de verdadeiramente prestar atenção à forma como você se sente e aos seus pensamentos.


AÇÃO INSPIRADA
Eu amo o conceito de ação inspirada porque ele se conecta com a nossa intuição e nos faz prestar mais atenção às sutilezas da vida e do dia a dia.

Ação inspirada é aquela ação que segue uma ideia que parece que veio do nada e que quase tem vida própria.

Se você estiver sufocada na sua “rotina”, é provável que sufoque a inspiração e só consiga agir dentro daquilo que você chama de controle. Mas se você estiver atenta e se auto-observando, vai perceber que não ter o controle de tudo é normal e também pode ser muito bom.

E aí, qual (ou quais) dessas maneiras de fazer o trabalho interno você vai começar a fazer a partir de agora? Deixe seu comentário. 🖤

A direção certa do esforço

Photo by Jen Theodore on Unsplash

“Deixe sua intuição te guiar. Você é o que você estava procurando.”

Quanto mais você se conhece, melhor você se expressa. Quanto mais você se expressa, melhor você se conhece. Viver é esse eterno fluxo. A conexão, o contraste, a aventura. Ir e voltar sempre permite que a gente acesse novas partes da gente e se conheça numa profundidade que a falta de fricção não permite.

Viver no fluxo do eu é perceber suas nuances, entender que suas sombras fazem parte de quem você é, de quem você não é e de quem você quer se tornar (que eu chamaria de se lembrar da sua verdadeira natureza). Viver esse fluxo é se abrir para se conhecer e se deixar ser sem se julgar, sem se limitar e sem deixar que te limitem por vergonha, por medo, por mágoas ou por apatia.

O sentido da vida é a gente que dá

A gente pode criar seguindo o que está dentro da gente ou seguindo aquilo que é conveniente de acordo com opiniões alheias. A menos que você tenha muito medo de descobrir o que você guarda aí dentro, ter a sua história como referência sempre vai gerar identificação e conexão, por mais doloridas que tenham sido as suas experiências. Essa pra mim é a parte mais bonita: a possibilidade de curar nossas dores ajudando outras pessoas a enfrentarem coisas parecidas como quem diz: eu já passei por isso, eu te entendo e a gente vai ficar bem.

Isso não tem o mesmo efeito quando é feito artificialmente. Para fluir naturalmente, a gente precisa embarcar no fluxo, mergulhar em quem somos, estudar a nossa própria história e encarar momentos como algo além dos momentos em si. O sentido da vida é a gente que dá e isso não acontece da noite para o dia. É observação, construção, composição.

Entregue ao fluxo

Qual é a história que você está se contando? Qual é a história que você quer que contem quando você se for? Pode parecer muito para pensar, mas quando você está realmente entregue ao fluxo, não precisa pensar tanto, apenas ser. E o ser dá conta de ligar os pontos que a gente não consegue por se preocupar demais.

Se esforçar costuma ser doloroso quando não estamos alinhados com nosso coração. E quando tamos, mal parecemos nos esforçar, porque agimos a partir da inspiração. Parece simples, mas demanda um esforço interno bastante insistente. Porém, eu venho aprendendo que essa é a direção certa do esforço: para dentro.

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Respeite a sua história

Photo by Colton Sturgeon on Unsplash

Em um mundo cada vez mais digitalizado, ficou mais fácil editar não só nossa aparência, mas também a nossa vida para que tudo fique cada vez mais aesthetic, simétrico e perfeito. Com isso, ficou também muito mais fácil a gente comparar nosso tapete antigo e surrado com a grama sintética recém instalada e verdinha dos vizinhos que a gente pode jurar (dada a grande quantidade de filtros e efeitos) que é natural. Ficou cada vez mais comum sentir a tal da frustração com as partes das nossas vidas que não são instagramáveis, enquanto comparamos o nosso dia a dia e nossos bastidores com o palco de outras pessoas. Isso sem contar que a gente também alimenta esse sistema editando a nossa vida e mostrando só as partes legais. Fica fácil acreditar que tudo é perfeito, mesmo que no fundo a gente saiba que não é bem assim.

Enquanto vemos tantas vidas, fotos, corpos e projetos perfeitos, é comum sentir a necessidade de resetar a nossa existência, começar tudo de novo sendo novas e melhores pessoas. A possibilidade de recomeçar sempre vem como uma excelente alternativa à nossa falta de perspectiva, de desenrolo com os problemas atuais e com a ideia de que tudo vai ser diferente a partir de agora. Essa possibilidade vem acompanhada do sentimento de querer fazer melhor, de uma esperança iludida de deixar para trás quem a gente foi, as coisas erradas que a gente fez, de abandonar toda a confusão que a gente já sentiu, tomar decisões mais acertadas, endireitar nossos passos, encontrar nosso rumo e, enfim, se comprometer com o nosso progresso.

Não me leve a mal. Eu acho importante demais saber a hora de desistir de alguma coisa, de saber se reinventar e recomeçar quando é necessário. Mas acho que também é necessário haver alguma resiliência ou nos tornamos viciadas em recomeçar. Porque recomeçar, muitas vezes, é a alternativa fácil. É a alternativa de quem não sabe lidar com o meio do processo, de quem evita sentir a frustração de não saber como enfrentar novos desafios e de quem prefere o conforto de ser sempre iniciante em alguma coisa – o nível de responsabilidade é menor, as cobranças são menores e a desculpa de estar “só começando” é uma aliada perfeita ao nosso medo de se tornar grande demais. Recomeçar é recurso para quem já tentou de tudo e precisa de novos ares. Não é um recurso para quem tem medo do próximo passo e do quanto esse passo leva para mais fundo e para mais dentro do mar.

Imagine que você está dentro de um barco em alto mar e, embora saiba aonde quer chegar, toda vez que sente que se perdeu você volta para o porto. Você dificilmente vai conseguir chegar aonde quer porque está sempre voltando para o mesmo lugar – o começo. Agora imagine que sempre houve uma bússola em perfeito estado dentro deste barco mas que, por desconfiar da sua capacidade de interpretar o funcionamento dela, você continuou tomando a mesma decisão de voltar para o porto seguidas vezes. Parece insensato, não é mesmo? Mas a gente faz isso em outros contextos e, muitas vezes, sem perceber.

A vontade de começar “do zero” e ter uma trajetória livre de máculas nos impede de perceber que muitas histórias já foram escritas, muitas lições aprendidas e muitas habilidades foram desenvolvidas porque o nosso caminho foi exatamente do jeito que já aconteceu. Por mais que a gente queira jogar uma pá de terra em cima do nosso passado, ele não vai mudar. A gente pode dar sentido a tudo o que já viveu e usar essas bases para construir uma história nova sem precisar desconsiderar o que veio antes, porque o que veio antes permitiu que a gente se tornasse o que é agora – para o bem ou para o mal, não é deletando o seu passado que você resolve o seu futuro, mas fazendo escolhas conscientes no presente.